É muito comum, em todo tipo de canal midiático, encontrarmos enxertos quase que sensacionalistas sobre como sermos mais produtivos, como alcançarmos o sucesso, como ter maior inteligência emocional e entre outros. O comum desses escritos é que todos tentam retificar experiências sensíveis sob fórmulas e processos palpáveis, como receitas de bolos, num passo a passo em que no fim se tem um produto objetivo e irredutível.
Ainda assim, no final do dia, cada um é um. Uma pessoa que nunca andou de bicicleta, por mais que leia todos os livros, assista inúmeros vídeos, observe os mais proficientes atletas, nunca receberá desses meios a experiência real do exercício daquilo que observa. É preciso botar a mão no guidão e provavelmente ralar as canelas.
Por mais que todos nós saibamos disso, não deixamos de ser atraídos pela necessidade da experiência subjetiva por trás de todo exercício que a humanidade é capaz de realizar. Há uma atração inevitável pelo ‘macete’, pela ‘manha’ por trás das coisas. E assim seguimos, fantasiando a realidade através da experiência imaginária, da preparação teórica e do arquétipo da perfeição.
Isso acontece pela nossa capacidade de imaginar e projetar esse conhecimento efetivamente no dia-a-dia. Talvez nos sintamos menos ansiosos, ou quem saiba aconteça exatamente o contrário. Essa é a maior armadilha da produção subjetiva que existe: não há certo ou errado nesse mundo imaterial; as leis da relatividade com certeza são as maiores regentes desse espaço ambíguo. Acredito que o leitor já esteja se perguntando o que esses parágrafos metafísicos e filosóficos tem haver com o TerraLab ou com tecnologia e ciência. E lhes adianto: o relato que quero compartilhar é exatamente isso, seja lá o que isso for.
A minha experiência é única e subjetiva, pautada pelo meu perfil psicológico, carga cultural, vivência e todos os fatores que me tornam diferente de cada um ao meu redor. Ainda assim, existe algum valor na transmissão daquilo que achamos ser sublime, único, especial. Só não haverá ao longo desse artigo, a tentativa de fazer o leitor engolir a minha perspectiva como algo assertivo, mas sim completamente intimista e particular. Onde outro alguém ocupando o mesmo espaço pode viver de forma completamente diferente e chegar a resultados completamente opostos; e queiramos ou não, a variedade e diferenças que existem na humanidade são nossos maiores trunfos. Aceitar e trabalhar esse fator é uma qualidade extremamente útil – e creia ou não, aprendi isso com o TerraLab.
O TerraLab, como todos sabem, é um satélite institucional da Universidade Federal de Ouro Preto, voltado para a produção científica e capacitação dos estudantes interessados em navegar no sideral tecnológico. Através de seu famigerado processo seletivo, passamos a ocupar postos estruturados seguindo os moldes industriais e referenciais científicos mais bem sucedidos que existem por aí. Do Spotify ao Uncle Bob, essa fábrica laboratorial passa a metabolizar a força estudantil da melhor maneira possível, de forma a sedimentar uma base lunar acadêmica no ciberespaço selvagem do mercado da tecnologia da informação.
O perfil estudantil que entra nesse foguete é mais variado do que espécies de ervilhas. Das profundezas da terra, brotam os mais diversos personagens em busca de experiências, glórias e fama. É muito comum a grande parte desse ecossistema evadir durante ou logo após o processo seletivo. A maioria acredita que essa viagem espacial será guiada pelo conhecimento ancestral de uma frota de vulcanos extremamente especializados, mas se assusta ao perceber que são eles próprios quem estão no controle da embarcação.
Isso é, o laboratório oferece uma vasta gama de assistência técnica para os mais diversos setores e ambientes com os quais qualifica os estudantes. Depende de cada um deles se empoderar do conteúdo que lhes é proporcionado e também dialogar com os estudantes inseridos no laboratório. Mas, a maioria dos indivíduos é talvez desinteressada, preguiçosa, ou simplesmente incapaz de se arriscar no relacionamento interpessoal e se comunicar com as pessoas ao redor. É claro, isso tudo é suposição, e cada um é cada um, mas grande parte dos estudantes com o qual tive a oportunidade de me relacionar, na maioria das vezes simplesmente se isola num silencio profundo, restando a montanha ir até Maomé todas as vezes.
A outra parte, que fica, tem dois destinos quase certeiros: após se nutrir do conhecimento científico do laboratório, cria coragem para se lançar nas constelações do mercado e aciona os compartimentos de fuga de nossa nave sem deixar saudade. Isso acontece porque a grande maioria está interessada em um estágio remunerado, e não as qualidades mais profundas e especiais do laboratório, as quais vou abordar mais a frente. É claro, nem todos são tão interesseiros assim, outra grande parte simplesmente sucumbe ao peso psicológico de dar conta da faculdade, de outras atividades extra-curriculares ou dos fatores da vida pessoal e também acabam abandonando o navio, sem se dar conta que existe nesse ambiente, todo auxílio e apoio para que possam se desenvolver na medida do seu próprio tempo.
Se alguém me perguntar, no fim das contas, sobre o que grande parte desses dois parágrafos querem dizer de mais profundo, a pauta inicial desse enxerto emerge novamente. Existem tantos fatores subjetivos nesse cenário que é completamente impossível dizer o que acontece de verdade ou não. Se questionarmos cada um dos estudantes, colheremos os mais diferentes cenários e desculpas sendo difícil estabelecer a realidade dos fatos. Mas a grande maioria nunca se pronuncia ou tenta acessar as pessoas ao redor, e é aí onde se estabelece o ponto chave dos eventos.
O hiper luxuoso termo soft-skills é uma das outras pautas que os tipos de artigos que citei no início deste texto tentam sensibilizar e retificar. Relacionar-se é o intuito da humanidade, e só através da execução do papel social que podemos nos realizar. E o TerraLab é sobre isso. Os que ficam, ficam não porque em suma tem alta capacidade técnica e carga científica, mas sim por que são capazes de quebrar as barreiras do isolamento social, da realidade imaginária, pondo suas subjetividades a prova no campo de guerra da realidade; onde as vozes gritam, explodem, mas também se elevam entre o discurso, o diálogo e o debate.
No fim, não escapamos dessa questão tão profunda que abordei no início do texto: a subjetividade é única e intransferível, mas tem a necessidade desesperadora de se manifestar e compartilhar para que dessa forma, possa se realizar. A maior barreira em nós, somos nós mesmos, e tentamos a todo momento, rompê-la para ir além, e o TerraLab e assim como todo espaço nesse mundo é sobre isso. Não existe processo, ou receita prévia nessa esfera do universo. Tudo é tentativa e erro, ensaio e execução.
Os que ficam, são levados ao extremo disso. Num curto período de tempo, ocupamos diversas posições e responsabilidades e cabe a cada um tirar o melhor proveito disso. Eu tive o privilégio de chegar ao laboratório com uma base técnica maior que os colegas de minha área, isso me proporcionou uma bolsa de estudos que se tornou um ótimo estágio. Mas não foi somente a capacidade técnica que me proporcionou tudo isso. Dado minha ínfima curiosidade, cavei cada buraco possível do laboratório, me intrometi nos mais diversos cantos, gerei confusão nos mais variados setores, fui de cabo a rabo por todo canto, através da boca e do interesse pessoal.
Isso tudo são características pessoais e íntimas, outros colegas que hoje estão no mesmo lugar que eu seguiram caminhos diferentes: focaram toda sua energia num único ambiente e os levaram ao seus limites, se colocando à prova de maneiras diferentes. É por isso que não existe fórmula e o segredo se baseia no comunicar, na comunhão de nossa subjetividade com o outro, na realização da atividade social como um todo.
O TerraLab é mais que tudo, um espaço de relacionamento e conexões. Seu treinamento se baseia não só na formação técnica, mas na formação social. Seu amadurecimento não é simplesmente científico, mas intimista. Os limites não são profissionais e sim interpessoais. E nada disso se ensina, mas de alguma forma se aprende, se vive, se consagra na maravilha do existir. E foi isso, o que aprendi com o TerraLab.
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Este artigo foi escrito por Bernardo Emery, revisado por Prof. Rodrigo Silva.