Sensores Inerciais e Derivação de Atitude
Introdução aos Sensores inerciais
Giroscópios e acelerômetros exploram a propriedade da Inércia (resistência à alteração do momento de uma massa ou partícula) para captar movimento angular (giroscópio) ou o movimento linear (acelerômetro) de um corpo. Por esse motivo, eles são considerados sensores inerciais. Esses sensores, dentre outras aplicações, são fundamentais para o controle e navegação de aeronaves. Eles fornecem uma realimentação do movimento da aeronave e possibilitam o controle de comando de manobras bem como a estabilização aerodinâmica de uma aeronave através do sistema de controle de voo. Desta forma, o estudo e o entendimento dos princípios de funcionamento envolvidos, assim como, dos algoritmos de fusão de dados utilizados para extrair informações desses sensores, se tornam ferramentas importantes para o desenvolvimento dos sistemas de navegação inercial. Além disso, giroscópios e acelerômetros determinam o desempenho e precisão desses sistemas de controle e navegação, bem como, apresentam uma contribuição significativa para custo dos mesmos.
Giroscópio
O nome ‘Giroscópio’ deriva das palavras gregas ‘gyros’, que significa rotação, e ‘skopein’, que significa ver. Esse foi o nome dado por Jean Foucault, um físico francês, ao dispositivo capaz de medir a rotação do planeta Terra, inventado por ele em 1852. Assim como esse aparato inventado por Focault, os giroscópios utilizados em antigos projetos de sistemas de controle e orientação consistiam no que é chamado de ‘spinning rotor gyros’, uma vez que exploram o momento angular de um rotor giratório para determinar o movimento angular. Entretanto, a complexidade, o consumo energético, o tempo de resposta e as falhas inerentes à estrutura dessa tecnologia restringem seu custo de fabricação e aquisição, bem como, sua confiabilidade.
Considerando-se os requisitos de alta precisão de um sistema de navegação inercial (INS) e devido à alta confiabilidade e ao menor custo de aquisição, os giroscópios que operam utilizando os princípios de estado sólido e que podem ser integrados ao corpo (do qual se requer a medição do movimento angular) começaram a ser desenvolvidos. Sendo assim, os giroscópios de sistemas microeletromecânicos (MEMS), como o do tipo diapasão, e os giroscópios óticos, como o giroscópio de anel de laser (RLG, Ring Laser Gyro, em inglês) e o giroscópio de fibra ótica, passaram a substituir o giroscópio de rotor giratório (Spinning Rotor Gyro, em inglês).
Vale ressaltar que nos sistemas que não possuem uma exigência de precisão tão elevada são utilizados os giroscópios que exploram as tecnologias de fabricação de semicondutores e, assim, constituem um sistema microeletromecânico. Enquanto isso, nos sistemas que exigem alta precisão e confiabilidade são utilizados os giroscópios óticos.
Giroscópios com Tecnologia de Sistemas Microeletromecânicos (MEMS) em sensores inerciais
Este tipo de giroscópio explora a tecnologia de micro usinagem e os métodos de fabricação de circuitos integrados, possibilitando o desenvolvimento de sensores extremamente robustos, miniaturizados e com o custo relativamente baixo. A esta tecnologia de fabricação foi dado o nome de Sistemas Microeletromecânicos que, em inglês, forma o acrônimo MEMS (Micro Electro-Mechanical Systems).
Estes giroscópios exploram o efeito das forças de Coriolis que ocorre quando uma massa vibrante é submetida a uma taxa de rotação em torno de um eixo no plano de vibração. Uma das configurações básicas dos giroscópios MEMS é o tipo diapasão (tuning fork, em inglês).

Figura 1 -Giroscópio MEMS e o Efeito das Forças de Coriolis. [1]
Giroscópio Diapasão (Tuning Fork)

Figura 2- Princípio de Funcionamento do Giroscópio Diapasão. [1]
E a velocidade, V, no tempo, vibrando a uma taxa de ω rad/s e amplitude, A, é dada por
Então, a aceleração de Coriolis, será
Logo, a força de Coriolis, FC, aplicada a uma haste de massa m, será
Sendo assim, a amplitude da vibração, AV, induzida pelo efeito das forças de Coriolis será
Onde K é uma constante.
Assim é possível perceber que a amplitude do sinal de saída de um giroscópio MEMS é diretamente proporcional à taxa de rotação aplicada no eixo de entrada desse giroscópio.
Um modelo do giroscópio MEMS do tipo diapasão que é bastante utilizado na indústria trata-se do giroscópio de quartzo piezoelétrico e o seu funcionamento é evidenciado na figura a seguir.

Figura 3 – Funcionamento do giroscópio diapasão de quartzo piezoelétrico. [1]
Giroscópios Óticos em sensores inerciais
Os giroscópios óticos, dentre os quais se destacam o RLG e o IFOG, medem a taxa de rotação angular através da percepção da diferença no tempo de percurso das ondas da luz de laser viajando em um caminho fechado em direções opostas. Essa diferença no tempo é proporcional à taxa de rotação de entrada e esse efeito é conhecido como “efeito Sagnac”, uma vez que foi descoberto pelo físico francês em 1913. A diferença no tempo, proporcionada pelo efeito Sagnac, ΔT, entre os caminhos horário e anti-horário é dada por
Onde A é a área abrangida pelo caminho fechado, c é a velocidade da luz e θ é o ângulo de rotação em torno de um eixo normal ao plano do caminho fechado.
A diferença no comprimento do caminho ótico, ΔL (onde L é perímetro do caminho), é dado por
Logo,
A figura abaixo exemplifica a diferença no comprimento do caminho ótico, ΔL, que é gerada a partir do efeito Sagnac.

Figura 4 – Efeito Sagnac. [1]
O primeiro modelo de giroscópio de anel de laser (RLG) foi desenvolvido ainda na década de 1960, enquanto que o modelo de giroscópio de fibra ótica foi desenvolvido apenas ao final da década de 1970, a partir de avanços da indústria no desenvolvimento de fibra ótica.
Princípio de funcionamento do Giroscópio de Anel de Laser (RLG) de sensores inerciais

Figura 5 – Princípio de Funcionamento do RLG. [1]
Esse caminho fechado com cavidade ressonante possui uma frequência de modo longitudinal, f, que é determinada pelo comprimento, L, do caminho ótico da cavidade, e é dada por
Onde n é um inteiro e c é a velocidade da luz.
A diferença de frequência, Δf, resultante da diferença no comprimento do caminho ótico, ΔL, é dada por
Mas
Assim,
Como o comprimento de onda do laser é dado por λ = c/f, então:
Ou seja,
Onde K0 é o fator de escala do giroscópio.
Desta maneira, o giroscópio se comporta como um integrador e, assim, o ângulo de rotação em torno do eixo de entrada do giroscópio em um dado período de tempo será proporcional à quantidade de pulsos contados dentro desse período. Então, como podemos ver na Figura 5.b, o RLG comporta-se de forma similar a um encoder incremental ótico.
Esse post foi apenas a primeira parte, de um total de dois posts, que visam abordar de forma teórica os aspectos relativos aos sensores inerciais e à derivação de atitude aplicados a uma aeronave. A sequência desse post, pode ser encontrada em Sensores Inerciais e Derivação de Atitude (Parte 2).
Referências
[1] COLLINSON, R. P. G. “Introduction to Avionics Systems”. Editora Springer, 3a Ed. 2011.
[…] é a sequência do post Sensores Inerciais e Derivação de Atitude (Parte 1). Uma contextualização sobre o tema abrangido pelos posts, uma introdução sobre os […]
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